A Mater Dei

Outubro Rosa Mater Dei: reconhecimento, renascimento e ressignificação

Colaboradoras e pacientes da Rede Mater Dei de Saúde do HUB BH compartilham suas trajetórias na luta contra o câncer de mama

A campanha intitulada “Elas por elas” da Rede de Hospital Mater Dei de Saúde propõe uma forma de enxergar as lutas de mulheres contra o câncer de forma coletiva, mas dando voz de forma individual. Para isso, pacientes e funcionárias participaram da campanha de 2025, contando um pouco de cada jornada. 

Imaginei que ouviria histórias sobre exames, tratamentos e diagnósticos, mas o que encontrei foram narrativas sobre coragem, fé e amor, sobre o renascimento de mulheres que descobriram, no meio da dor, novas formas de enxergar a vida.

Reconhecendo o diagnóstico 

Com uma voz calma e o olhar firme, Ana Paula de Oliveira Farias Peregrino, lembra do turbilhão de lembranças que ela carrega desde o dia em que ouviu o diagnóstico de câncer de mama. “Eu descobri por um exame de sangue”, contou, relembrando que, por acompanhar por tantos anos o tratamento da mãe, que também sofreu de câncer por 22 anos, sabia reconhecer pequenos sinais de alerta. A confirmação veio como um soco: “Sonhei três noites seguidas que estava com câncer. Quando procurei a médica, foi confirmado.”

Enquanto falava, Ana se esforçava para não deixar a emoção transbordar. O medo que a tomou naquele momento era o mesmo que tinha visto a mãe enfrentar. “Pensei que fosse morrer, ou que meu filho me veria doente como vi minha mãe.” Após a confirmação, vieram também os questionamentos, mas foi através da fé que ela teve forças para continuar. Eu lembro que eu estava um dia na minha casa orando e olhei para o céu de noite e falei assim: “Deus, por que eu vou fazer a quimioterapia? Por que que eu vou ficar careca? Por que comigo? Eu achei que não ia acontecer comigo. Eu achei que ia parar com a minha mãe.”

Hoje, ela está em remissão, mas ainda se lembra da angústia de se olhar no espelho durante o tratamento e não se reconhecer. Em meio às incertezas, o apoio da família e dos colegas de trabalho se tornou seu porto seguro. “Tive medo de ser abandonada, como aconteceu com minha mãe, mas meu marido e meu filho estiveram comigo o tempo todo.” No Mater Dei, encontrou uma nova rede de afeto, um grupo criado por outra colaboradora, Célia Regina do Nascimento, que reúne mulheres em tratamento para trocarem experiências e força. “No grupo existe uma troca muito interessante e importante para nós que estamos enfrentando esse momento. Existem momentos de descontração e também de suporte, pra quem acabou de descobrir, por exemplo. Você consegue enxergar dentro das pessoas uma parte de si, com as histórias de outras mulheres que já passaram ou vão passar por esse processo.”

Apesar de sempre cuidar de sua saúde, Ana foi surpreendida com a doença e deixa a dica para que todas as mulheres busquem sempre se cuidar, realizar exames e ter pessoas em sua volta que também se importem com sua saúde. 

Redes que inspiram

Célia Regina do Nascimento está sempre com um sorriso estampado no rosto e prestes a fazer outra pessoa rir. Animada e festeira, ela viu seu futuro mudar em maio de 2024, após o diagnóstico de câncer de mama. A colaboradora conta que o diagnóstico chegou dois meses depois da morte do pai. “Eu não vivi o luto, trabalhava 24 horas para não sentir a ausência dele.” Foi durante um plantão que sentiu um nódulo na axila, achou que fosse uma foliculite, mas o exame revelou o câncer. Com lágrimas contidas, ela descreveu o turbilhão de sentimentos que veio a seguir: medo, tristeza e angústia. “Tudo muda. A alimentação, os hábitos, o corpo e até as vontades. Eu amava torresmo e cerveja, viajar, tomar sol e o mar, agora tomo suco com gengibre”, brincou. “Parece que o chão se abre e você cai dentro”, ela finaliza.

Célia encontrou amparo nas colegas de trabalho e na fé. “Se você coloca tudo na mão de Deus, você verá a mão de Deus em tudo”, disse, sorrindo com os olhos marejados. A rede de apoio que se formou em torno dela, entre amigas, familiares e colegas, fez toda diferença. Ela passou a morar com uma amiga durante o tratamento, e aprendeu a aceitar o cuidado que antes só sabia oferecer aos outros. “Sempre fui de cuidar e precisei aprender a ser cuidada.”

Foi também durante o tratamento que Célia percebeu que precisava dividir o que vivia. Criou então um grupo de apoio, que começou com quatro mulheres e hoje reúne mais de 25, entre colaboradoras e pacientes. “O grupo não é só para quem tem câncer de mama. Queremos acolher quem enfrenta qualquer tipo de diagnóstico, porque ninguém deveria passar por isso sozinha.” E complementa: “Aquele grupo faz parte da nossa vida porque todo mundo põe ali os seus medos, suas angústias, põe suas risadas, o que a gente pretende fazer para ajudar outras pessoas, eu acho isso mais legal.”

Ela, junto com as demais mulheres que compõem o grupo, esperam conseguir apoiar cada vez mais pessoas que estejam passando por esse momento difícil, para que suas jornadas possam ser mais leves e acolhedoras. “O câncer não é o fim, ele é o recomeço”, finaliza Célia. 

Segundo a Dra. Bárbara Santana, médica oncologista da Rede Mater Dei de Saúde, esses vínculos são essenciais durante o processo. “Isso é importante não só tecnicamente, mas para criar vínculo, porque o câncer de mama é uma luta muito solitária. A rede de apoio muda completamente a forma como elas enfrentam o tratamento.”

Forças que curam

Juliana Paiva chegou a Belo Horizonte no fim de 2023 para passar as festividades de fim de ano com a família, mas não conseguiu voltar para o interior da Bahia, onde morava com o filho, o marido e a mãe. Guiada por algo que, na época, nem entendia bem. “Antes do diagnóstico, eu comecei a sentir vontade de ler a Bíblia todos os dias. Depois percebi que era um chamado.” Pouco tempo depois, veio o resultado: carcinoma invasivo. “O câncer vai tirando pedaços da gente. Primeiro o cabelo, depois a mama, um dos momentos mais difíceis, pois a aréola representa muita coisa para uma mulher.”

“Antes mesmo de saber, eu sentia vontade de ler a Bíblia todos os dias. Não entendia por quê, mas hoje vejo que era um chamado.” Em janeiro, durante um exame de rotina, seu mundo virou de cabeça para baixo. “A médica disse que havia 90% de chance de ser câncer. Entrei no hospital às 14h da tarde e saí às 20h da noite com a biópsia feita. Fui pra casa já com a fé ligada.” Cinco dias depois, veio o resultado: carcinoma invasivo.

Juliana lembra que o início foi marcado pelo desespero. O medo de morrer, de não ver o filho crescer, de perder o controle. “Achei que era o fim, mas descobri que era o começo de outra vida.” No meio do processo, perdeu também o cachorro que a acompanhava havia anos, ele também com câncer. “Eu levava ele pra fazer quimioterapia comigo. As pessoas olhavam e choravam. Era uma dor, mas também um laço de força.”

Entre sessões e orações, Juliana descobriu na fé o alicerce que faltava. “Deus foi minhas pernas”, diz. Hoje, ainda em tratamento, ela fala sobre renascimento com a serenidade de quem sobreviveu ao próprio medo. “A Juliana de antes não me esperou. Eu tive que me reinventar.”

De acordo com a Dra. Bárbara, o cenário atual do câncer de mama é cada vez mais positivo, e deve ser tratado com esperança. “Por volta de 90% das pacientes ficam bem e são curadas, especialmente quando o diagnóstico é feito cedo”, explica. “O câncer de mama tem muitos subtipos, mas, de forma geral, é uma doença tratável. Descobrir rápido, informar-se e confiar no processo fazem toda a diferença.”

É justamente o conhecimento e o diagnóstico precoce que fazem a diferença nos desfechos positivos. A médica finaliza dizendo: “A campanha de câncer de mama é fundamental, para que as mulheres saibam que, se tiver alguma doença, vai dar certo, que tem como tratar”. E complementa: “O medo é natural, mas a informação é poder. Descobrir cedo é o que garante que a maioria das pacientes fique bem”.

Entre as quatro paredes da sala de entrevistas, percebi que aquelas histórias falavam da doença, mas iam muito além dela. Falavam de fé, de perda, de recomeço, de reencontro consigo mesmas. Essas mulheres me ensinaram que, quando uma se levanta, todas se levantam um pouco juntas. E que, na luta contra o câncer de mama, o diagnóstico pode ser o início de uma nova vida: uma vida mais atenta, mais forte e, acima de tudo, mais compartilhada.

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